Sobre "conectar os pontos" de Steve Jobs

Sobre "conectar os pontos" de Steve Jobs

Vou fazer aqui algo n?o muito usual. Agora a pouco estava curtindo um post sobre a vida do Steve Jobs, e me lembrei do discurso dele em Stanford. As histórias s?o motivadoras, mas principalmente a história de conectar os pontos me toca. Esta aqui :

Cada vez que vejo esta história de conectar os pontos me emociono, e embora n?o seja completamente verdadeira (tanto a Microsoft quanto a Apple copiaram da Xerox a idéia de um sistema operacional com fontes de tamanhos variados e um desktop imitando uma mesa), a história é motivadora e verdadeira. Acredito mesmo que tudo que fazemos, e mesmo que aparentemente pare?a desconectado, segue um caminho de conectar os pontos. Como Jobs disse,

"olhando para hoje ou para frente n?o é possível saber o que aquilo significa. Mas depois olhando para trás, todas as a??es parecem guiar nosso destino de uma forma mágica, talvez aquilo a que chamamos de toque divino".

Por isto vou contar minhas próprias histórias de conectar os pontos. Por favor n?o entenda como uma forma de me enaltecer ou me exibir, mas como uma forma de você olhar para trás e perceber que tudo você já fez faz parte de um plano milagroso que nos guia ao longo da vida.

Minha passagem pela eletr?nica

Eu sempre gostei de eletr?nica, desde crian?a. Me lembro de ir até um ferro velho que tinha perto de casa, e lá o dono do ferro velho me deixava retirar pe?as de aparelhos eletr?nicos antigos sem cobrar nada. Bom, às vezes cobrava. Tinha rádios a válvula, televis?es quebradas e quando tinha mais sorte coisas mais exóticas como transmissores. Eu me fixava em válvulas e outras coisas que eu achava bonitas. Deveria ter algo entre entre 7 e 10 anos. Minha m?e ficava preocupada porque me achava no mínimo "estranho" (n?o que agora n?o o seja, kkkk).

Com 10 anos de idade, existia uma revista chamada Nova Eletr?nica. Naquela época, o seu "Jaime", dono da banca de jornais, ligava para minha m?e e perguntava : "dona Edna, seu filho está querendo comprar umas revistas estranhas de eletr?nica aqui. Posso vender para ele?". kkkkkk. Sim, você pode n?o acreditar mas naquela época donos de bancas de jornais se preocupavam com o que as pessoas estavam comprando! é óbvio que eu n?o era prematuro. Eu olhava aqueles circuitos e achava bonito esteticamente, mas claro que n?o conseguia entender minimamente o que significavam.

Isto me levou a fazer um curso de técnico em eletr?nica, pois eu n?o precisaria esperar a faculdade para tentar aprender aquilo tudo de que gostava tanto. E de fato, por ter feito um colégio técnico em eletr?nica, acabei chegando mais cedo ao mercado de trabalho, e tive a oportunidade de trabalhar no primeiro fabricante de PCs do Brasil, a Softec. Opa opa opa ! A história nos diz que o primeiro fabricante foi a Scopus! N?o é verdade. A primeira fabricante de PCs foi a Softec, que depois se dividiu em Softec e Sector. Eu trabalhei nas duas! Este lindo equipamento aqui (um apelo, se alguém tiver um deste ainda e quiser me vender, só avisar) :

Primeiro PC clone do Brasil

Na Softec eu montava aquele lindo monitor da foto, que na verdade era uma televis?o! Se arrancasse aquela linda flange bege, por trás era uma televis?o com o seletor de canais exposto (bem, se você n?o sabe o que é um seletor de canais, tudo bem). Quando houve a cis?o das empresas, fiquei na Sector e foi a oportunidade que tive de trabalhar com desenvolvimento de hardware. Se eu n?o tivesse passado pelo ferro velho e comprado revistas que nem mesmo entendia, nunca teria este privilégio de trabalhar no primeiro fabricante de PCs do Brasil. A hostória de conectar os pontos.

Embora quase tudo fosse uma cópia devido à reserva de mercado, construímos um device genuinamente nacional, que foi chamado de inteligência78. Também fizemos o "projeto SEI"dele. Este aqui :

glaucoreis.com.br

Aquela foto de uma placa era uma placa IRMA (infelizmente n?o tenho a foto do Inteligência78), que transformava um PC em um terminal 3278 de mainframe IBM. O que fizemos foi criar uma placa, que você capturava o teclado do 3278 e direcionava para um PC, e toda atividade da tela do PC era direcionada para a tela do 3278. Ou seja, enquanto todo mundo tentava reduzir os custos transformando um PC em 3278, nós tentávamos transformar o "imenso" parque de 3278 disponíveis em PCs. Eu e meu amigo Sergio Bueno choramos quando vimos o SideQuick rodar em um terminal 3278!!!! Claro que fracassou, afinal n?o existiam tantos terminais 3278 quanto imaginávamos. Mas para nós foi uma vitória! Somente olhando para trás foi possível entender o que estava destinado para mim.

Como.o Java chegou em minha vida

Alguns anos depois a reserva de mercado foi extinta (gra?as a Deus) e tive que migrar para software, embora eu gostasse mais de hardware. Nesta segunda história de ligar os pontos eu trabalhava na Agência Estado, provedora de notícias do jornal Estad?o. Um dos produtos que eles tinham era chamado de Broadcast. Ele essencialmente pegava cota??es de vários provedores como Roiters, Bovespa, Boverj e outros provedores que nem existem mais e olha só!!! Usávamos uma subportadora de uma rádio para enviar um sinal com todas estas cota??es em real time. Ou seja, pegávamos carona no sinal de uma rádio. Eu trabalhava nesta época com a rotina que rodava em um PC 8088 em DOS e Windows anterior ao 3.0 lendo da porta serial e repassando para outra parte do software que mostrava na tela. Nesta época eu e meu amigo Josué Andrade Gomes lidávamos com um programa de mais de 20.000 linhas de código. Aqui existem várias histórias, mas a que importa hoje é:

Nesta época os PCs usavam um chip chamado 8250. Ele lia dados de uma porta serial e transformava em bytes. Se eu n?o tivesse passado pela primeira história de conectar os pontos, n?o teria chegado ali. Mas acontece que este Chip 8250 tinha um buffer de recep??o com exatamente um caractere. O dispositivo que recebia o sinal de rádio e mandava para o PC n?o tinha controle de envio. N?o aceitava pausas. Traduzindo, enfiava goela abaixo do PC tudo que chegava. O DOS e Windows daquela época eram mais lentos (o hardware também) e rodavam em modo real. Resumindo, eu perdia caracteres quando lia. Sabe aquela história do malabarista com muitas bolas, que algumas caem de vez em quando? O mesmo aqui. Quando questionávamos a Microsoft, a resposta era que o problema era do nosso software. Em quem vocês acham que meus patr?es acreditavam? Na minha palavra ou na da Microsoft? Foi um momento de grande estresse, e fazíamos de tudo para n?o perder caracteres, mas os PCs eram lentos e o chaveamento entre processos desabilitava interrup??es e perdíamos caracteres as vezes. Insistentemente contatos com a Microsoft geravam a mesma resposta de que o problema era do nosso programa. Mas, ent?o que em um daqueles momentos mágicos, as vésperas do lan?amento do Windows 95, recebemos uma carta da Microsoft informando que realmente as vers?es dos Windows anteriores ao 95 tinham mesmo um problema de "latência no chaveamento dos processos" que, somados ao uso do 8250, poderia ocasionar perdas de dados em comunica??es seriais, e a sugest?o era utilizar o 16550. Isto aconteceu alguns dias antes do lan?amento do Windows 95, e além do FAX eles sugeriam uma migra??o para o Windows 95 que tinha um melhor chaveamento de processos. Estou falando desta carta aqui que guardo até hoje :

Fax enviado uma semana antes do lan?amento do Windows 95

Nós provavelmente fomos os primeiros a comprar cópias do Windows 95 naqueles quiosques (acho que Brasoftware, desculpe se errei). Fizemos os ajustes necessários, como crian?as que receberam um binquedo novo, todo esperan?osos, e rodamos nosso software lá. Bom, acho que você sabe o que aconteceu né? Perdia dados pela porta serial. Isto só seria resolvido mais adiante, quando o 8250 foi substituído pelo 16550 que armazenava uma quantidade maior de bytes recebidos (um buffer). Nós entramos em contato com a Microsoft, dizendo que continuava perdendo e imagina qual foi a resposta? "Deve ser um problema do seu programa" ! kkkkkk.

Nesta época, um grande amigo meu que participou da próxima história de conectar os pontos Jose Parrot Bastos me convidou para um projeto "estranho" da IBM chamado projeto SanFrancisco. Você pode n?o saber o que foi este projeto, mas as idéias dele foram o que depois serviram de base para a cria??o do JEE pela Sun. Ele era uma iniciativa em uma tecnologia iniciante, chamada de Java, que eu nunca tinha trabalhado mas escrevia muito sobre ela. O que o Java tinha de interessante era que era multiplataforma, e o discurso é que era independente do sistema operacional. Para alguém que dependia totalmente da Microsoft e do Windows, foi como me agarrar em uma boia depois de um navio afundando. Novamente, sem ter passado pelos pontos anteriores, nunca teria chegado ao Java.

Sobre minha escrita

A última história que vou contar aqui é sobre minha liga??o com a escrita. Pessoas me perguntam como fa?o para escrever, e de verdade, n?o sei ensinar. Os textos fluem na minha mente, e só vou colocando eles no papel ou no digital. Na época em que brigava com portas seriais no Windows, precisava de algo para desestressar. Existia uma tecnologia chamada Java e que era independente do sistema operacional. Comecei aprender tudo que pudesse dela, e na época existia uma revista chamada Developers Magazine. Nesta época n?o tinha muita gente que escrevia. Me lembro de amigos como Cezar Taurion e alguns poucos outros que se aventuravam, e comecei a enviar artigos para eles, na esperan?a de fazer parte deste seleto grupo de autores. Hoje todos os meus artigos escritos est?o de novo republicados aqui (vá lá no final e encontrará os links). Depois de escrever muitos textos fui convidado a escrever uma coluna chamada java.point. E depois acabei sendo convidado para participar do conselho da revista. No início eu escrevia para desabafar ou esquecer das portas seriais. Acho que um marco foi quando fizemos uma revista dedicada à IBM. Esta aqui :

Cique na imagem para ir até a vers?o digitalizada

Modestamente eu fui responsável por toda produ??o desta edi??o. Desde selecionar os artigos e pessoas, até escrever 4 dos artigos para torná-la possível. Foi um sucesso, pois além das vendas nas bancas, a IBM comprou uma tiragem de 10.000 exemplares para distribuir para clientes. Nossa idéia era fazer o mesmo depois com Oracle, Bea, Sun e as principais editoras, Escrever nesta época era puro prazer, as pessoas elogiavam e peguei gosto pela coisa. Depois que a revista faliu, escrevi para a Mundo Java e Java Magazine, sempre sobre Java. Peguei tanto gosto que fundei minha própria editora, chamada Portal BPM. Todas as edi??es da revista est?o no meu site. A primeira edi??o eu tive que escrever praticamente tudo sozinho, só depois que ficaram sabendo que estava em bancas de jornais choveu gente se oferecendo para escrever. Portanto hoje, quando as pessoas perguntam como consigo fluidez ao escrever, novamente aparece a história de ligar os pontos. Sem os problemas da serial nunca encontraria um escape, nunca me envolveria com Java e nunca escreveria nem fundaria minha editora.

Portanto, OLHE PARA SEU PASSADO, SE ORGULHE, mas principalmente tente encontrar como os pontos se conectam ! Tudo que você fez no passado faz parte de um plano incrivelmente elaborado por uma entidade superior. Eu fui agraciado por esta entidade, mas cada um de nós também foi. E para você que está iniciando e n?o tem muitos pontos para ligar, siga seu cora??o. Se envolva profundamente e apaixonadamente pelo que seu cora??o mandar!

Obrigado como todas as vezes pela leitura !!!


Alexandre Sousa Silva

Full Stack Developer at IBM | Angular | Java | Node.JS | AWS Certified

4 个月

Uma das minhas cita??es favoritas. Parabéns pelo post!

Glauco Reis eu publiquei alguns artigos na DM. Bom saber que vc tem um site com todas as edi??es. Vou visitar. Obrigado!

Nei Grando, MSc.

Cyberstorage, Estratégia, Inova??o, Transforma??o Digital, Inteligência Artificial

4 个月

Bela história! Me fez lembrar a minha, muito parecida. Comecei com Fortran, COBOL, Assembler 8080, Z80, 8086, Forth e depois Pasca MT+, Turbo Pascall, C (um bom tempo), C++, Java e finalmente. .Net C#. Desenvolvi CAD/CAM, Emuladores de Controladoras e Terminais IBM e Unisys, além de Firmwares como BIOS, Cartuxos MSX, Vídeo Texto, ... Depois placas de hardware e softwares de comunica??o Micro x Micro e Micro X Mainframe, ... Mais tarde em 1995/6 montei uma provedoria de acesso e hospedagem Internet, depois solu??es Inter-banking, homebrocker, gest?o de documentos, CRM, AdServer, ... atuei como técnico, depois CTO, depois CEO, consultor de negócios e tecnologia, mentor de Startups e agora voltei a atuar como CTO da CyberStorage Cloud. Escrevi Livros, dou aula na ESPM de Fundantos de IA, tenho um blog sobre negócios e tecnologia, incluindo IA, e sou Top Voice no LinkedIn. Amo o que fa?o, ... :)

Alexandre Liberato

Backend Developer | Java | Spring Boot | React | PostgreSQL | Docker | JUnit | Bootstrap | SOLID

4 个月

Glauco, obrigado por compartilhar sua vasta experiência! Sempre interessante ler seus artigos.

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