Rastreabilidade: um meio e n?o um fim em si mesma
Isabella Freire , Diretora executiva, América Latina
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No mundo das commodities agrícolas, há um grande foco na rastreabilidade no momento. As exigências do mercado consumidor, tanto voluntárias quanto regulatórias, est?o gerando uma preocupa??o em todo o setor com a rastreabilidade até a origem. O Regulamento de Desmatamento da UE (EUDR) exigirá a rastreabilidade até a fazenda como parte da avalia??o de due diligence para as principais commodities, incluindo soja, café, cacau, carne bovina, couro e óleo de palma. A rastreabilidade corre o risco de se tornar um fim em si mesma, em vez de algo que nos ajude a causar impacto no território e a transforma??o setorial que precisamos ver.
Ent?o, por que precisamos da rastreabilidade? Em nosso trabalho, queremos identificar a origem de um produto agrícola para entender como ele foi produzido. Os consumidores, no fim da cadeia, querem saber sobre as condi??es de produ??o - desmatamento, trabalho infantil e direito à terra s?o normalmente foco dos questionamentos. Cada vez mais vemos a rastreabilidade vinculada à agenda climática e às reivindica??es de resultados climáticos (claims); se você quiser contabilizar suas emiss?es de Escopo 3 - o carbono emitido em seu processo de produ??o - você precisa saber o que está acontecendo em sua cadeia de suprimentos. Portanto, a rastreabilidade é importante.
Entretanto, se você quiser agir para mudar as condi??es de produ??o - evitar o desmatamento, eliminar o trabalho infantil, garantir que os direitos à terra sejam respeitados - a rastreabilidade só é útil até o nível em que você já pode agir. Além disso, ela se torna facilmente uma distra??o e algo que pode consumir muito tempo e dinheiro que poderiam ser gastos na resolu??o de problemas em nível local. E isso geralmente significa interven??es para além de uma única cadeia de suprimentos.
Ent?o, qual é o nível certo? Acreditamos que as empresas - e os órg?os reguladores - devem adotar uma abordagem baseada em riscos para incentivar o investimento no nível adequado de a??o.
Por exemplo, se você estiver tentando evitar que a carne bovina proveniente de terras recentemente des florestadas entre na cadeia de suprimentos e estiver comprando de uma regi?o sem desmatamento relacionado ao gado (ou sem floresta), como o Uruguai ou a Escócia, a rastreabilidade completa n?o é essencial. Mesmo que você identifique a origem como uma área com desmatamento, impulsionada n?o apenas pela commodity que você compra, mas também por outros fatores, como especula??o de terras, agricultura de subsistência ou minera??o, a rastreabilidade total e a a??o em nível de fazenda ou planta??o individual n?o impedir?o o desmatamento. Isso precisa ser abordado em nível de paisagem, por meio do envolvimento da comunidade e dos agricultores, a??es governamentais, educa??o, incentivos e aplica??o da lei.
Na produ??o de a?úcar, vemos empresas buscando rastreabilidade total além das usinas para eliminar o trabalho for?ado de suas cadeias de suprimentos. No entanto, se o trabalho for?ado for sistêmico em uma regi?o, n?o há como garantir que alguma cadeia de suprimentos está completamente livre disso. As usinas mudam de fornecedor ou compram no mercado spot de fazendas n?o rastreadas. Uma quest?o sistêmica precisa de uma resposta sistêmica em um nível que realmente resolva o problema.
?E esse nível útil e viável de rastreabilidade varia de acordo com a mercadoria, a regi?o e a dinamica da cadeia de suprimentos.
No caso do óleo de palma, a rastreabilidade até a planta extratora oferece uma oportunidade de abordar várias quest?es: a própria extratora e como ela se relaciona e apóia seus produtores independentes ou em associados à planta. A fábrica pode ser o nível mais adequado para envolver os produtores e tomar medidas em rela??o a várias quest?es de sustentabilidade. Mas trabalhar com pequenos produtores independentes que n?o est?o vinculados a uma planta extratora pode ser mais difícil. Nestes casos, conhecer o lote de cada agricultor é menos importante para a promo??o de mudan?as do que rastrear até o vilarejo, pois, para promover mudan?as reais, é preciso trabalhar com a comunidade, a associa??o ou a lideran?a.
A rastreabilidade deve ser vista como um meio para atingir um fim. é um componente importante e útil para permitir que as empresas se envolvam em um nível que apoie mudan?as reais nas práticas de produ??o. Quando ela se torna um fim em si mesma, buscada principalmente para fins de conformidade legal, corre o risco de simplesmente excluir os produtores que n?o est?o em conformidade, em vez de promover mudan?as na prática.
A verdadeira transforma??o setorial exige uma mudan?a de mentalidade (e talvez também de regulamenta??o) que promova a responsabilidade da cadeia de suprimentos como parte da solu??o, empregando a rastreabilidade em um nível que permita a a??o na escala adequada.
Os Proforest Insights baseiam-se em nossos 25 anos de experiência prática em fornecimento e produ??o responsáveis de commodities agrícolas e florestais. Este Insight faz parte de uma série da lideran?a sênior da Proforest. A série completa está disponível em: https://www.proforest.net/news-events/insights/
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Traceability: a means not an end
Isabella Freire , Executive Director, Latin America
In the world of agricultural commodities, there’s a lot of focus on traceability at the moment. Demand-side requirements, both voluntary and regulatory, are driving an industry-wide pre-occupation with traceability to source. The EU Deforestation Regulation (EUDR) will require traceability to farm as part of the due diligence assessment for major commodities including soy, coffee, cocoa, beef, leather and palm oil. Traceability risks becoming an end in itself, rather than something that takes us to delivering the impact on the ground and sectoral transformation that we need to see.
So why do we need traceability? In our work we want to identify the origin of an agricultural product in order to understand how it was produced. Downstream consumers want to know about production conditions – deforestation, child labour and land rights are typically in question. Increasingly we see traceability linked to the climate agenda and claims; if you want to account for your Scope 3 emissions – the carbon emitted in your production process - you need to know what’s happening in your supply chain. So, traceability matters.
However, if you want to act, to change conditions of production – avoid deforestation, eliminate child labour, ensure land rights are respected – traceability is only useful to the level where you can take action. Beyond that, it easily becomes a distraction and something that can use of a lot of time and money that could be spent addressing issues at the local level. And that often means interventions beyond a single supply chain.
Where is the right level? We believe companies – and regulators – should be taking a risk-based approach to encourage investment at the appropriate level of action.
For example, if you’re trying to avoid beef from recently deforested land entering the supply chain, and you’re sourcing from a region with no cattle-related deforestation (or no forest), such as Uruguay or Scotland, complete traceability is not critical. Even if you identify the origin as an area with deforestation, driven not only by the commodity you buy, but also other factors like land speculation, subsistence farming or mining, full traceability and action at the individual farm or plantation level alone won’t prevent deforestation. That needs to be addressed at the landscape level, through community and farmer engagement, government action, education, incentives and legal enforcement.
In sugar production, we see companies seeking full traceability beyond the mills to eliminate forced labour from their supply chains. But if forced labour is systemic across a region, no supply chain is guaranteed to have excluded it. Mills change suppliers, or purchase on the spot market from untraced farms. A systemic issue needs a systemic response at a level that actually addresses the problem.
And that useful and feasible level of traceability varies by commodity, region and supply chain dynamics.
For palm oil, traceability to the mill provides an opportunity to address several issues: the mill itself, and how it relates to and supports its independent or scheme producers. The mill can be the most appropriate level to engage producers and take action on several sustainability issues. Working with independent smallholder producers who are not linked to a mill can be more difficult. Knowing the individual farmers’ plot is less important for achieving change than tracing to the village, because to effect real change you need to work with the community, association or leadership.
Traceability should be seen as a means to an end. It’s an important building block and helpful to enable companies to engage at a level that supports real change to production practices. Once it becomes an end in itself, pursued mainly for legal compliance purposes, it risks simply excluding non-compliant producers instead of promoting changes in practice.
Real sectoral transformation demands a change in mindset (and perhaps in regulation too) that promotes supply chain responsibility for being part of the solution, employing traceability to a level that enables action at the appropriate scale.
Proforest Insights are drawn from our 25 years of practical experience in responsible sourcing and production of agricultural and forest commodities. This Insight is part of a series by Proforest’s senior leadership. The full series is available on Proforest’s website: https://www.proforest.net/news-events/insights/