Proud @ Work: armário n?o é lugar de gente

Proud @ Work: armário n?o é lugar de gente

Quantas pessoas você conhece, no seu círculo profissional, que você sabe que s?o gays mas disfar?am ou até mesmo fingem que n?o s?o? De acordo com uma pesquisa da Harvard Business Review, quase metade dos trabalhadores LGBT+ nos EUA n?o saem do armário. N?o sei qual é a estatística no Brasil, mas imagino que n?o deva ser melhor.

Existe uma raz?o pra isso: o receio de terem suas carreiras prejudicadas de alguma maneira, ou de sofrerem algum tipo de preconceito ou discrimina??o no ambiente de trabalho. Muitas empresas brasileiras hoje contam com políticas de diversidade e, na teoria, com políticas de n?o-discrimina??o. Diversidade, no entanto, n?o significa inclus?o. E a diversidade sem inclus?o é, na melhor das hipóteses, inócua.

Do lado dos negócios, a importancia de ter equipes diversas — em gênero, idade, forma??o, etnia, orienta??o sexual e outras dimens?es — já foi mais do que explorada, e n?o vou me alongar nisso. Basta lembrarmos que é essa diversidade que mantém a inova??o e a criatividade vivas e vibrantes, que é essa diversidade que permite às organiza??es encontrarem perspectivas e solu??es diferentes para os cada vez mais urgentes e complexos desafios de negócios. é a heterogeneidade dos grupos que permite que a gente n?o esteja fadado a repetir eternamente as mesmas coisas.

No entanto, n?o adianta contratar mulheres e exigir que se comportem como homens. Ou contratar um LGBT+ e esperar que ele "disfarce". Quem nunca ouviu alguém dizer a respeito de um colega "Tudo bem ser gay, mas n?o precisa ser t?o afeminado"? Ou "tudo bem ser lésbica, mas isso é assunto pessoal, n?o precisa ficar anunciando"? Quando se for?a as pessoas a se moldarem a um determinado padr?o de comportamento, justamente elimina-se o que a diversidade tem de melhor: as diferen?as. Daí a importancia da inclus?o, de se aceitar as pessoas como elas s?o. N?o é possível deixar de ser quem você é quando se passa o crachá na porta do escritório. Uma m?e n?o deixa de ser m?e quando entra numa reuni?o, um homem apaixonado n?o esquece seu amor quando entra em uma conference call e alguém que acabou de brigar com o pai n?o esquece a frustra??o, raiva ou tristeza no segundo em que encontra o cliente. Nós somos inteiros, indivisíveis e, para o bem ou para o mal, n?o dá pra deixar a vida pessoal em casa.

Eu n?o gosto de me expor. Como uma pessoa introvertida e um pouco tímida eu procuro, de maneira geral, ser discreta e chamar o mínimo de aten??o possível. Por isso, durante muitos anos evitei falar da minha vida pessoal no trabalho, exceto entre um pequeno círculo de amigos muito íntimos.

Perdi a conta de quantos almo?os eu estive em que todos compartilhavam o que haviam feito no fim-de-semana anterior com seus maridos, esposas, namorados e namoradas e eu, n?o. Ou, quando compartilhava alguma história, era um relato parcial. E perdi a conta, também, de quantas vezes soube das fofocas feitas a meu respeito. Todas completamente malucas, claro, com apenas um acerto: eu era homossexual. Porque, obviamente, todos sabiam da minha orienta??o — apenas n?o falávamos sobre isso e, como eu n?o contava nada sobre mim, as pessoas fantasiavam e comentavam as coisas mais estapafúrdias. 

Essa situa??o era profundamente desconfortável. De um lado, eu gastava uma energia imensa me preocupando em n?o dar muitas pistas de quem eu era realmente. Segundo, porque isso dificultava a forma??o de vínculos com as pessoas — compartilhar é, afinal, uma das maneiras mais poderosas de formarmos liga??es. Terceiro, porque ninguém gosta de ser alvo de fofocas. Vivi essa situa??o durante muitos anos, e sempre foi inc?modo. Mais do que inc?modo, era triste e angustiante sentir que uma parte de mim era menos aceitável e que, para ter sucesso na carreira, era preciso escondê-la.

Um dia, por raz?es específicas, precisei sair do armário para minha gerente na época. A rea??o dela foi a que eu menos esperava: nenhuma. Ela nem piscou. Eu passei semanas angustiada, ensaiando, indo e voltando atrás na minha decis?o para ela NEM PISCAR. Eu poderia ter contado que havia comido um bife no almo?o que a rea??o dela seria a mesma, de quem havia acabado de ouvir uma coisa completamente corriqueira. 

Isso me deu o primeiro sinal de que, talvez, eu tivesse me preocupado tanto e por tantos anos à toa. Depois desse episódio, fui aos poucos saindo do armário para os demais colegas, até que em um certo momento já estava completamente out. As primeiras sensa??es foram de alívio e liberta??o. Que delícia n?o precisar mais me policiar e nem me preocupar com isso! Num segundo momento, veio a constata??o de que já n?o havia mais fofocas a meu respeito. N?o há muito sobre o que fofocar quando n?o há segredo. De forma geral, as rea??es das pessoas foram as melhores possíveis. Hoje, tenho a sorte de trabalhar em uma empresa — o Facebook — que encoraja todos os funcionários a serem eles mesmos, todos os dias. Onde n?o apenas respeitamos as diferen?as, mas as celebramos e valorizamos como umas das coisas mais preciosas que temos. 

Sei que minha história é uma de privilégio. A maioria das pessoas LGBT+ n?o tem a sorte de trabalhar em empresas assim, em que contam com um grau razoável de prote??o contra a discrimina??o e o preconceito por sua orienta??o sexual ou identidade de gênero. E foi justamente por isso que decidi compartilhar minha história (mesmo n?o me sentindo muito à vontade com a exposi??o). Eu acredito que quem tem o privilégio que eu tenho, de poder falar, tem a obriga??o de tentar fazer algo para ajudar quem n?o tem. 

Nós fazemos parte do grupo LGBT Tech, que reúne profissionais LGBT+ de diversas empresas de tecnologia. Juntos, estamos compartilhando nossas histórias para que cada vez mais as empresas criem ambientes diversos e inclusivos, onde as pessoas — LGBT+ ou n?o — se sintam acolhidas e livres para serem que s?o, colocando toda sua energia em serem criativas, inovadoras e em entregar grandes resultados, e n?o em esconder partes delas ou de suas vidas. E a sua história, qual é? Para contar, clique aqui.

#ProudAtWork #SejaVoceMesmx

Léia Carvalho

Executiva de Novos Negócios

6 年

Que delícia de texto. Eu sofro quando vejo alguém no armário, n?o tenho a pretens?o de tirar ninguém dele, mas ao menos tento ficar o mais próxima possível para que ainda estando nele esta pessoa possa falar do seu final de semana sem meias verdades.?

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Claudia Coelho Monteiro

Human Resources | Tech Recruiter | Generalist

6 年

E viva a diversidade! O que seria do vermelho se todos gostassem somente do azul?

Carolina Silva

Operations Manager at Teleperformance Portugal l

6 年

Que artigo incrível, Ma?! A inclus?o é bonita só de se ver e falar, mas a realidade é outra. Como você disse, cabe à nós privilegiados tentar fazer algo para ajudar quem n?o tem esse privilégio. Acredito que estamos no caminho, mas falta MUITO a ser feito. Vamos Juntxs!

Saliel Pereira

Pós-Graduado MBA em Especializa??o, Moderniza??o, Infraestrutura e Gest?o Portuária | Logística Portuária | Armazéns | Transporte | Distribui??o | Customer Service | Inglês intermediário.

6 年

Sexualidade é algo íntimo de cada um, ninguém precisa sair falando aos quatro ventos se é hetero ou homossexual, isso é intimidade de cada um. Para que sair do armário? Ninguém quer saber de sua intimidade fique no armário mesmo.

Saliel Pereira

Pós-Graduado MBA em Especializa??o, Moderniza??o, Infraestrutura e Gest?o Portuária | Logística Portuária | Armazéns | Transporte | Distribui??o | Customer Service | Inglês intermediário.

6 年

Jair Bolsonaro Presidente do Brasil 2018.

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