O que é a Semiótica Dinamica?
? 1996 de Isabel Marcos

O que é a Semiótica Dinamica?

A semiótica dinamica, também conhecida como semiótica thomiana ou morfodinamica, é uma abordagem inovadora que explora as intera??es entre formas e significa??es a partir de uma perspetiva qualitativa em vez de quantitativa. Fundada pelo matemático e filósofo francês René Thom, esta semiótica distingue-se pela sua capacidade de modalizar transi??es e ruturas nos fenómenos naturais, sociais e culturais, baseando-se nos princípios provenientes da teoria das catástrofes (Thom, 1972/1977).

A teoria da catástrofe, pedra angular da semiótica thomiana, prop?e uma classifica??o dos eventos descontínuos em sete formas matemáticas fundamentais, denominadas ?catástrofes elementares?. Estas formas permitem descrever e compreender as dinamicas morfológicas presentes em diversos sistemas, sejam eles biológicos, linguísticos ou sociais. Por exemplo, uma ?catástrofe prega? pode modelar uma transi??o súbita numa perce??o ou comportamento (Zeeman, 1977). Estes modelos possibilitam uma representa??o sintética dos pontos de rutura ou transforma??o dentro de sistemas complexos, facilitando a sua análise.

Existem essencialmente duas escolas. A escola dinamarquesa de Per Aage Brandt e a escola francesa de Jean Petitot. Ambas destacam, desde o início, a existência de várias semióticas distintas, que Brandt demonstra através da sua obra: a teoria das catástrofes e a teoria das saliências e pregnancias. S?o dois tipos de modela??o topológica do sentido, duas semióticas:

·??????? A primeira permite considerar, de forma complementar, os estados e as transi??es entre estados.?Esta modela??o estabelece uma semiótica como pensamento do signo, interpretada pela segunda modela??o, ou seja, a teoria das saliências e das pregnancias. Para Thom, os signos s?o geralmente motivados: o significante é motivado pelo seu sentido devido à sua eficácia biológica fundamental, e os efeitos arbitrários que podem ser observados na linguagem derivam de uma motiva??o semiótica básica. Os signos emergem do comportamento animal associado aos grandes tipos de regula??o comportamental (descoberta de presas e predadores, reconhecimento de parceiros sexuais, etc.). Esta conce??o do signo difere significativamente das perspetivas estruturalistas, que consideram a rela??o entre significante e significado como arbitrária.

·??????? A segunda modela??o explica a forma como um objeto de aten??o, uma ?saliência?, adquire significado através da ?pregnancia? que o investe.?As saliências s?o eventos percetivos, ou seja, ruturas de continuidade no sensível, capazes de atrair a aten??o de um organismo consciente — por exemplo, um grito no silêncio — e que convidam esse ser a interpretá-las em termos organicamente apropriados. Este investimento torna o evento significante, ou ?pregnante? de sentido (Brandt, 1992, 1995).

A semiótica thomiana assenta, assim, nestes dois eixos de modela??o complementares, permitindo desenvolver uma compreens?o dinamica do sentido em evolu??o. Marcos (2007, 2019), no seu trabalho, também explorou de que forma estes princípios podem ser aplicados às dinamicas territoriais e sociais, articulando a semiótica dinamica com disciplinas como a arquitetura, urbanismo e a geografia.

?Uma nova abordagem epistemológica

Do ponto de vista epistemológico, a semiótica dinamica prop?e uma alternativa à divis?o entre as ciências exatas e as ciências humanas. Defende uma ?viragem realista? que reabilita um conhecimento comum, simultaneamente qualitativo e interpretativo, dos fenómenos. Para Thom, ? prédire n'est pas expliquer (prever n?o é explicar)? (1991); a explica??o de um fenómeno reside na sua compreens?o qualitativa, tornando-o inteligível e linguisticamente descritível (Petitot, 1985). Esta viragem realista valoriza a dimens?o qualitativa dos fenómenos, frequentemente negligenciada por abordagens puramente quantitativas.

En articulant les sciences naturelles, sociales, humaines et territoriales, la sémiotique dynamique permet de comprendre les processus de transformation de notre planète et l'impact des activités humaines sur les écosystèmes.

A for?a desta abordagem reside na sua aplica??o transversal. Por exemplo:

  • Na linguística, permite explorar a rela??o entre sintaxe e morfologia dos eventos linguísticos.
  • Na biologia, fornece um quadro para compreender as dinamicas evolutivas.
  • Nas ciências sociais, oferece ferramentas para analisar transforma??es estruturais das sociedades.
  • Nos estudos ambientais, ela é particularmente relevante para a investiga??o das altera??es climáticas e das dinamicas territoriais.

Ao articular as ciências naturais, sociais, humanas e territoriais, a semiótica dinamica ajuda a compreender os processos de transforma??o do nosso planeta e o impacto das atividades humanas nos ecossistemas. Permite modelar as intera??es complexas entre fatores humanos e naturais, tais como a urbaniza??o, a desfloresta??o ou as migra??es climáticas. Por exemplo, a teoria das catástrofes pode ser utilizada para analisar os pontos críticos na evolu??o de um território sujeito a press?es ecológicas, como as zonas costeiras vulneráveis à subida do nível do mar.

?Para uma Compreens?o dos Desafios Ambientais e Sociais

A semiótica dinamica oferece um método para ligar dados qualitativos e quantitativos e criar representa??es compreensíveis das dinamicas ecológicas complexas. A sua capacidade de integrar diferentes disciplinas faz dela uma ferramenta essencial para enfrentar os grandes desafios contemporaneos. Convida-nos a repensar os nossos modelos de intera??o com o território e a desenvolver estratégias mais sustentáveis para gerir crises ambientais. Por exemplo, no contexto da luta contra as altera??es climáticas, a semiótica dinamica pode analisar as representa??es sociais do clima e identificar pontos de rutura nos comportamentos coletivos.

Assim, a semiótica dinamica thomiana constitui uma resposta às limita??es do paradigma estruturalista e prop?e ferramentas de análise para compreender as intera??es complexas entre formas, sentido e eventos. Contribui n?o só para uma melhor compreens?o do mundo, mas também para a elabora??o de solu??es adaptadas aos desafios globais. A riqueza desta abordagem reside na sua capacidade de ultrapassar as fronteiras disciplinares e oferecer uma perspetiva integradora sobre diversas problemáticas.

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Bibliografia

  • Thom, René,?Prédire n'est pas expliquer, Paris, Eshel, 1991.
  • Thom, René,?Stabilité structurelle et morphogenèse, Paris, Interéditions, 1972/1977.
  • Zeeman, Christopher,?Catastrophe Theory: Selected Papers 1972-1977, Cambridge, Addison-Wesley, 1977.
  • Petitot, Jean,?Morphogenèse du sens, Paris, PUF, 1985.
  • Brandt, Per Aage,?La charpente modale du sens, Aarhus University Press, 1992.
  • Brandt, Per Aage,?Morphologies of Meaning, Aarhus University Press, 1995.
  • Marcos, Isabel,?Dynamiques de la ville. Essais de sémiotique de l’espace, Paris, L’Harmattan, 2007.
  • Marcos, Isabel, 2020. “Presentación del proyecto semiótico: Actualidad de René Thom,” (Steimberg, Oscar, Traversa, Oscar, e Cingolani, Gastón, Ed.) in?Conferencias plenarias, Vol. 8, 175-184,?https://iass-ais.org/proceedings2019/Proceedings_IASS_2019_tomo_8.pdf, ISBN (Online) 978-987-47805-7-7,?Libros de Crítica. área Transdepartamental de Crítica de Artes, idioma: espanhol.

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