N?o há inteligência sem emo??o
Rodrigo Focaccio
Consultor de Comunica??o Especialista em LinkedIn | Ghostwriter | LinkedIn Creator | LinkedIn Top Voice | Suporte para a comunica??o de profissionais e empresas | Produ??o de conteúdo | Treinamentos Corporativos
Texto produzido para o For?a Meninas
Em um trecho do livro “Carta a D.”, em que o filósofo André Gorz escreve sobre o seu relacionamento com sua esposa Dorine, ele diz como se dirigisse a ela: “você n?o precisava de ciências cognitivas para saber que, sem intui??es ou afetos, n?o há nem inteligência, nem sentido”. A declara??o de Gorz é prova de que ele aprendeu com a companheira sobre a importancia das emo??es.
Sempre fui considerado, pelos outros e também pela minha autocrítica, como uma pessoa “emocional”. Embora tenha capacidade analítica e de raciocinar sobre problemas lógicos, meu temperamento é o que se pode chamar de tipicamente latino: explosivo, dramático e que muitas vezes pode colocar tudo a perder por causa de uma ímpeto. E tenho a sensa??o de que minha filha saiu do mesmo jeito.
Assim como a maioria dos homens, fui educado em uma sociedade que enxerga a express?o das emo??es como fraqueza
Uso a palavra “autocrítica” ao me avaliar como um indivíduo emocional de propósito. Assim como a maioria dos homens, fui educado em uma sociedade que enxerga a express?o das emo??es como fraqueza. N?o sei quando come?ou o machismo, mas desconfio que o fato das mulheres conseguirem expor suas emo??es com mais naturalidade pode ter a ver com essa origem.
“Homem n?o chora” é uma frase lapidar da cultura de repress?o das emo??es. Um lema que, como um punhal, fere dois lados simultaneamente: as mulheres, que s?o vistas como frágeis e incapazes de lidar com problemas complexos por supostamente terem personalidades “mais emocionais” e os homens, que s?o criados para n?o demonstrarem aquilo que sentem e a agir racionalmente, como se fosse possível separar uma coisa da outra. Mas assim como o filósofo austríaco, acredito que é possível aprender que a compreens?o das emo??es é fundamental para o desenvolvimento da espécie humana.
“Homem n?o chora” é uma frase lapidar da cultura de repress?o das emo??es
Nossas emo??es surgiram junto com a evolu??o dos mamíferos há mais ou menos 200 milh?es de anos. Do ponto de vista biológico, parece difícil negar que emo??o e raz?o s?o duas pe?as indissociáveis de uma mesma máquina: a mente humana. Em artigo no El País, o presidente da Sociedade Espanhola de Medicina Psicossomática e Psicoterapia, José Luis Marín, afirma: “o equilíbrio e a felicidade s?o encontrados quando as emo??es e o pensamento param de brigar”
Há alguns anos resolvi assumir meu caráter emotivo. Em vez de negar minhas emo??es mais básicas como o medo, a raiva, a tristeza, a alegria, a curiosidade, a repulsa e o amor, comecei a tentar entendê-las e identificá-las. N?o é fácil. Estou longe de me considerar exemplar no assunto. Tenho muitas dificuldades de segurar meus fluxos de pensamentos, minha língua e meus impulsos quando a raiva toma conta, criando uma espécie de névoa que me impede de raciocinar e que me leva apenas à a??o. Aliás, a origem da palavra emo??o, do latim, significa movimento. Faz sentido.
Na minha primeira sess?o de terapia, disse que meu meu desafio era ser mais o Doutor Jekyll do que o Senhor Hyde ou mais Bruce Banner do que Hulk. Também comecei a ler mais sobre o assunto. Uma das primeiras li??es tive com o livro “Emotional Awareness”, um bate-papo entre o psicólogo americano Paul Ekman e Dalai Lama. Aprendi que em vez de negar minhas emo??es, precisava aprender o que fazer com elas. Dalai Lama fala muito sobre medita??o e como ela é capaz de aumentar o tempo de rea??o entre aquilo que se sente em um instante até a resposta - ou a a??o - para aquele sentimento. Nenhum exemplo me parece mais claro do que as rea??es desproporcionais que temos no transito, sempre que alguma coisa nos irrita.
Aprendi também que a filosofia ocidental, uma adolescente se comparada à idade da ciência do Oriente, negligenciou por muito tempo a necessidade de se compreender os sentimentos. Figurativamente para nós, uma está mais próxima do cora??o do que da mente. O que, claro, n?o tem o menor cabimento. Mas quando vi que até o Dalai Lama enfrenta dificuldades para lidar com suas emo??es foi mais fácil admitir minha fraqueza e buscar algum equilíbrio.
Entender as emo??es é t?o importante que a anima??o “Divertidamente” deveria ser exibida n?o só nas escolas para crian?as, mas também nas empresas, para adultos. Desde que minha filha nasceu, pude notar como o desenvolvimento das emo??es é evidente nos bebês que, ainda sem saber identificar o que sentem, demonstram seus sentimentos basicamente através do choro ou do que acostumamos a chamar de “manha” ou “birra”. No fundo, palavras que servem apenas para nomear emo??es mal interpretadas por eles e por nós. Também percebi que minha busca para admitir e lidar melhor com as minhas próprias emocionais foi providencial para educar minha filha, sem reprimir sua sensibilidade, que certamente será muito útil para o seu desenvolvimento humano e intelectual.
Relacionamentos se desgastam, amizades acabam e buscamos coisas inúteis - muitas vezes materiais - tentando tapar o buraco deixado por nossas emo??es mal compreendidas ou oprimidas
Com adultos, a situa??o é semelhante. Relacionamentos se desgastam, amizades acabam e buscamos coisas inúteis - muitas vezes materiais - tentando tapar o buraco deixado por nossas emo??es mal compreendidas ou oprimidas. Na Era Digital, a situa??o se complica ainda mais. O isolamento e a distancia causada por aparelhos eletr?nicos tende a tornar ainda mais difícil entender as emo??es que sentimos e, mais ainda, as emo??es que os outros sentem. Somos cada vez mais crian?as fazendo manhas e recebendo birras de volta. O cenário se agrava quando penso na quantidade de adultos infantilizados que est?o educando a próxima gera??o.
N?o me parece arriscado afirmar que a solid?o, o vazio existencial e, de forma ainda mais extrema, os casos cada vez mais numerosos de suicídio, s?o reflexos de um mundo que se pretende cada vez mais racionalista, materialista e ignorante dos sentidos da alma. Sofremos com o n?o entendimento das emo??es e da falta de incentivo que deveríamos ter para falar desse assunto sempre. Desde crian?as.
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Administrador de Empresa
6 年Se racionalizarmos a emo??o e emocionalizarmos a raz?o talvez chegaríamos a um equilíbrio. Parabéns pelo texto!!!
Professora de língua portuguesa na Secretaria de Estado de Educa??o e Desporto do Amazonas (SEDUC-AM); mestra em Letras pela Universidade Federal do Amazonas; licenciada em Pedagogia pela UNOPAR e graduanda e Psicologia.
6 年Adorei seu artigo.
Auxiliar de trainee na SulAmérica
6 年é verddddddddd
Sócio na Andrea Arantes Contabilidade
6 年Muito bacana. Me identifiquei pessoalmente. Meus problemas de lhe dar com minhas fortes emo??es e vazios existenciais foram solucionados n?o apenas com o tempo e a experiência mas com o conhecimento de um Deus vivo que me fez entender quem eu sou e como viver em harmonia entre corpo, alma e espirito.
Profissional de Saúde, bem-estar e educa??o física
6 年Excelente texto.