A Letter to my Friend Who Just Became a Psychiatrist

A Letter to my Friend Who Just Became a Psychiatrist

(Vers?o [PT/BR] no final da página).

Dear Friend,

In response to your request, I write to you with the tenderness and seriousness this moment requires, aiming to share with you 10 reflections inspired by my own journey in the remarkable field of Medicine. My hope is that these words will accompany you as you embark on this new chapter of your life, taking on the noble profession of Psychiatry. However, first and foremost, I wish to emphasize that these reflections stem from my deeply personal experience, carrying the mark of subjectivity, and thus should be considered mere invitations to reflection, not unquestionable truths. The end of Medical Residency, from a Heideggerian perspective, appears to me as an excellent invitation to existential anxiety (Angst). Far from being negative, this anxiety paves the way to authenticity, allowing us to confront finitude and choose the paths that most define us. Therefore, I suggest you listen to the voice of your conscience as you forge your path, distinguishing between what possibilities belong to you in this world and what is merely noise from the impersonal idle talk, the inauthentic path that “they” expect us to follow.

With that said, here are my reflections:

  1. First, despite the sense of vast learning we possess at the end of Residency, the subsequent years should unveil even deeper knowledge, with the potential to transform your understanding of Psychiatry. Yes, it is a continuous process of evolution and discovery.
  2. I believe it's crucial to recognize that Psychiatry transcends what modern diagnostic manuals describe. After all, it is a science and an art that deals with the complexity of the human experience in its multiple dimensions.
  3. Thus, I emphasize that the role of the psychiatrist is not limited to treating diseases with specific causes but rather to welcoming sentient beings who seek us out, their existences constricted by unspeakable sufferings. Therefore, our practice should be based on empathy and a profound understanding of the other.
  4. In this way, although medications have their value, especially in severe cases, they should not be seen as the sole intervention strategy. The risk of chronicity of disorders demands a broader and more integrated therapeutic approach.
  5. I then underscore the importance of taking care of your own mental health, as the capacity to be therapeutic is intrinsically linked to our psychological well-being – I believe empathy and understanding emerge from an inner space of health and balance.
  6. Be aware that transitioning to the job market may present challenges distinct from those faced in Residency. In this new context, external expectations, if not carefully managed, can dangerously be internalized as genuinely our own. Knowing oneself and identifying these internalizations is, therefore, crucial.
  7. This self-knowledge can be cultivated through activities that connect us with our inner selves and the world around us, whether they are physical, artistic, or educational. Thus, I suggest you continue to enrich your existence with activities that aren't limited directly to your profession.
  8. As you well know from our previous conversations, I constantly repeat that Medicine – and Psychiatry in particular – is in constant evolution. Therefore, a commitment to continuous education is essential for us to provide the best, up-to-date, evidence-based care to our patients.
  9. Approaching the end of this letter, I suggest you be cautious not to close yourself off to a personal view of Psychiatry. Experience enriches us, but it can also make us overly confident in our convictions if we're not open to other perspectives. Hence, the importance of maintaining dialogue with different approaches and continuous study to keep our practice effective.
  10. Lastly, but certainly not least, I highlight the distinction between passion and love, where I find it fitting to draw inspiration from Bion's ideas. In this sense, while passion may be conceived as a tangle of unprocessed beta elements, projections of our ideals, love emerges from the ability to give meaning and shape to our feelings, transforming them into thought-out alpha elements.

With that, I conclude this letter with the hope that you maintain a capacity to be passionate about people and the world you're a part of, but also be able to transform that passion into meaningful and profound love. Finally, I wish for your journey in Psychiatry to be filled with discoveries, overcome challenges, and above all, a deep commitment to the well-being of those who seek in you a safe harbor, an expression of the most genuine and authentic altruism.

With affection,



CARTA PARA O MEU AMIGO QUE ACABOU DE SE TORNAR PSIQUIATRA

?Querido amigo,

Em resposta ao seu pedido, escrevo-lhe com a ternura e a seriedade que este momento exige, buscando compartilhar contigo 10 reflex?es inspiradas na minha mais própria jornada no incrível campo da Medicina. Meu desejo é que essas palavras possam acompanhá-lo nesse novo capítulo que se inicia em sua vida, à medida que assume para si a nobre profiss?o de psiquiatra. Quero, todavia e antes de tudo, salientar que essas reflex?es decorrem da minha experiência personalíssima, carreando consigo a marca da subjetividade, raz?o pela qual devem ser concebidas como meros convites à reflex?o, jamais verdades incontestáveis. O momento do fim da Residência Médica parece-me, a partir de uma perspectiva heideggeriana, um excelente convite à angústia existencial. Longe de ser negativa, essa angústia abre caminho para a autenticidade, permitindo-nos enfrentar a finitude e escolher os caminhos que mais nos definem. Sugiro, assim, que escute a voz da sua consciência ao trilhar o seu caminho, distinguindo quais s?o as suas possibilidades neste mundo e o que é mero ruído do falatório da impessoalidade, do caminho inautêntico que “os outros” esperam que a gente trilhe.

Ressalvas feitas, seguem as minhas reflex?es:

  1. Primeiramente, apesar da sensa??o de vasto aprendizado que possuímos ao fim da Residência, os anos subsequentes devem revelar conhecimentos ainda mais profundos, com o potencial de transformar a sua compreens?o da Psiquiatria. Sim, trata-se de um processo contínuo de evolu??o e descoberta.
  2. Penso que é essencial reconhecer que a Psiquiatria transcende o que os manuais diagnósticos hodiernos descrevem. Afinal, trata-se de uma ciência e uma arte que lida com a complexidade da experiência humana em suas múltiplas dimens?es.
  3. Assim, enfatizo que o papel do psiquiatra n?o se limita a tratar doen?as com causas específicas, mas sim a acolher seres sencientes que nos procuram com suas existências restringidas por sofrimentos inenarráveis. Destarte, nossa prática deve basear-se na empatia e no entendimento profundo do outro.
  4. Desse modo, embora os medicamentos possuam seu valor, especialmente em casos graves, n?o devem ser concebidos como a única estratégia de interven??o. O risco de cronifica??o dos distúrbios exige uma abordagem terapêutica mais ampla e integrada.
  5. Sublinho ent?o a importancia de cuidar da sua própria saúde mental, uma vez que a capacidade de ser terapêutico está intrinsecamente ligada ao nosso bem-estar psíquico – penso que a empatia e a compreens?o surgem de um espa?o interno de saúde e equilíbrio.
  6. Alerto que a transi??o para o mercado de trabalho pode representar desafios distintos daqueles enfrentados na Residência. Nesse novo contexto, as expectativas externas, se n?o cuidadosamente manejadas, podem acabar sendo perigosamente introjetadas como genuinamente nossas. Conhecer-se e identificar essas introje??es é, portanto, fundamental.
  7. Esse autoconhecimento pode ser cultivado por meio de atividades que nos conectam com o nosso interior e com o mundo que nos permeia, sejam elas físicas, artísticas ou educativas. Sugiro, assim, que n?o deixe de enriquecer a sua existência com atividades que n?o se limitem diretamente à sua profiss?o.
  8. Como você bem sabe, baseado em nossas conversas anteriores, eu n?o me canso de repetir que a Medicina – e particularmente a Psiquiatria – se encontra em constante evolu??o. O compromisso com a educa??o continuada é, dessa forma, essencial para que possamos oferecer os melhores cuidados, atualizados e baseados em evidências, aos nossos pacientes.
  9. Aproximando-se do fim dessa carta, sugiro ent?o cuidado para n?o se fechar em uma vis?o pessoal da Psiquiatria. A experiência nos enriquece, mas também pode nos tornar excessivamente confiantes em nossas próprias convic??es se n?o estivermos abertos a outras perspectivas. Friso, assim, a importancia de mantermos o diálogo com diferentes abordagens e do estudo contínuo no sentido de manter a nossa prática eficaz.
  10. Por último, mas n?o menos importante, ressalto a distin??o entre paix?o e amor, ocasi?o em que penso ser conveniente inspirar-me nas ideias de Bion. Nesse sentido, enquanto a paix?o pode ser concebida como um emaranhado de elementos beta n?o processados, proje??es dos nossos ideais, o amor emerge da capacidade de dar significado e forma aos nossos sentimentos, transformando-os em elementos alfa pensados.

Posto isso, encerro esta carta com o desejo de que mantenha viva a capacidade de apaixonar-se pelas pessoas e pelo mundo do qual você faz parte, mas que também seja capaz de transformar essa paix?o em um significativo e profundo amor. Desejo, por fim, que a sua jornada na Psiquiatria seja repleta de descobertas, desafios superados e, acima de tudo, de um profundo compromisso com o bem-estar daqueles que buscam em você um porto seguro, express?o do mais genuíno e autêntico altruísmo.

?Com carinho,

Thiago Genaro

Médico Psiquiatra / Coordenador da especialidade de Psiquiatria da Conexa / Zenklub

8 个月

O comentário 9 é fantástico. Viés de confirma??o é uma cilada, Bino ! Se de algum modo puder contribuir a este tópico, sugiro a leitura de um editorial do Professor Flavio Kapczinski na Acta Psychiatrica Scandinava, de 2015, salvo engano (link abaixo). "Wet minds, Dry minds, and the future of Psychiatry as a science". Além de invocar a ideia dos 3 mundos do Popper, ele traz a importancia do lado mais técnico-exato-cientifico da especialidade. Um trecho: " We cannot call ourselves specialists in neuroscience and, at the same time, call to ourselves the duty of explaining complex human behavior in strictly theoretical terms—as philosophers might ". Fica o link e segue o debate! https://onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1111/acps.12357

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