Fra Angelico Christ Crowned with Thorns, c. 1438 & Eugénio de Andrade Ecce Homo, 1970.
Francisco Cruz
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Ecce Homo ( Behold the Man ) are the Latin words used by Pontius Pilate in the Vulgate translation of the John 19:5, when he presents a scourged Jesus Christ, bound and crowned with thorns, to a hostile crowd shortly before his Crucifixion...
The poetic act is the total commitment of the being to its revelation.
This fire of knowledge, which is also a fire of love, in which the poet exalts and consumes himself, is his moral. And there is no other. In this plunge of man into his most silenced waters, what comes to light is both a singularity and a plurality.
But, curiously, the human spirit looks more easily at differences than similarities, forgetting, and Goethe is the one who reminds us, that the particular and the universal coincide, and so the poet's word, so faithful to man, ends up being a word of scandal within man himself.
In fact, he denies where others affirm, unveils what others hide, dares to love what others are not even capable of imagining.
A word of affliction even when it is luminous, of desire even when it is serene, rumbling even when it tells us its silence, because this being thirsty for being, which is the poet, is nostalgic for unity, and what it seeks is a reconciliation, a supreme harmony between light and shadow, presence and absence, fullness and lack.
This revelation of the poet, and of others with him, this descent into the heart of the soul, of which Heraclitus found the formula, this courage to show what he has found on the way - and it is never easy, nor joyful, nor irresponsible to reveal what one has found or dreamt of in the galleries of the soul - is what I will now call the dignity of the poet, and with it that of man.
Because it's always about dignity when someone reveals what they've seen, no matter how fascinating or intolerable the find may be.
“The future of man is man,” we agree.
But we're not interested in the disfigured man of our future. This sad animal that has inhabited us for thousands of years, whose possibilities we are so far from knowing, is the fruit of a disfigurement - the action of a culture more interested in hiding man from his face than in bringing him, beautiful and dark, into the clear light of day.
It is against the absence of man in man that the poet's word rises up, it is against this amputation in the living body of life that the poet rebels.
And if he dares to “sing in torment”, it's because he doesn't want to die without looking himself in the eye, and recognizing himself, and hating himself, or loving himself if necessary, which I don't believe he does.
From Homer to St. Juan de la Cruz, from Virgil to Alexander Blok, from Li Po to William Blake, from Bash? to Cavafy, the greatest ambition of poetic making has always been the same:
Ecce Homo, every poem seems to say. Here is man, here is his ephemeral face made up of thousands of thousands of faces, all of them splendidly breathing on the earth, none of them superior to the other, separated by a thousand and one differences, united by a thousand and one common things, similar and different, all of them similar and yet each of them unique, lonely, helpless.
It is to such a face that each poet is reconnected.
Their rebellion is in the name of this fidelity. Loyalty to man and to his lucid hope of being entirely himself; loyalty to the land where his deepest roots are; loyalty to the word that in man is capable of the ultimate truth of blood, which is also the truth of the soul.
- Eugénio de Andrade, in “Afluentes do Silêncio”, Editorial Inova Limitada, 1970
O acto poético é o empenho total do ser para a sua revela??o.
Este fogo de conhecimento, que é também fogo de amor, em que o poeta se exalta e consome, é a sua moral. E n?o há outra. Nesse mergulho do homem nas suas águas mais silenciadas, o que vem à tona é tanto uma singularidade como uma pluralidade.
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Mas , curiosamente, o espírito humano atenta mais facilmente nas diferen?as que nas semelhan?as, esquecendo-se, e é Goethe quem o lembra, que o particular e o universal coincidem, e assim a palavra do poeta, t?o fiel ao homem, acaba por ser palavra de escandalo no seio do próprio homem.
Na verdade, ele nega onde outros afirmam, desoculta o que outros escondem, ousa amar o que outros nem sequer s?o capazes de imaginar.
Palavra de afli??o mesmo quando luminosa, de desejo apesar de serena, rumorosa até quando nos diz o seu silêncio, pois esse ser sedento de ser, que é o poeta, tem a nostalgia da unidade, e o que procura é uma reconcilia??o, um suprema harmonia entre luz e sombra, presen?a e ausência, plenitude e carência.
Essa revela??o do poeta, e dos outros com ele, essa descida ao cora??o da alma, de que Heraclito encontrou a fórmula, essa coragem de mostrar o que achou no caminho – e nunca é fácil, nem alegre, nem irresponsável revelar o que se encontrou ou sonhou nas galerias da alma – é o que chamarei agora dignidade do poeta, e com ele a do homem.
Porque é sempre de dignidade que se trata quando alguém dá a ver o que viu, por mais fascinante ou intolerável que seja o achado.
? O futuro do homem é o homem ?, estamos de acordo.
Mas o homem do nosso futuro n?o nos interessa desfigurado. Este animal triste que nos habita há milhares de anos, cujas possibilidades estamos t?o longe de conhecer, é o fruto de uma desfigura??o – ac??o de uma cultura mais interessada em ocultar ao homem do seu rosto do que em trazê-lo, belo e tenebroso, à luz limpa do dia.
é contra a ausência do homem no homem que a palavra do poeta se insurge, é contra esta amputa??o no corpo vivo da vida que o poeta se rebela.
E se ousa ?cantar no suplício? é porque n?o quer morrer sem se olhar nos seus próprios olhos, e reconhecer-se, e detestar-se, ou amar-se se for caso disso, no que n?o creio.
De Homero a S, Juan de la Cruz, de Virgílio a Alexandre Blok, de Li Po a William Blake, de Bash? a Cavafy, a ambi??o maior de fazer poético foi sempre a mesma :
Ecce Homo, parece dizer cada poema. Eis o homem, eis o seu efémero rosto feito de milhares de milhares de rostos, todos eles esplendidamente respirando na terra, nenhum superior a outro, separados por mil e uma diferen?as, unidos por mil e uma coisa comum, semelhantes e distintos, parecidos todos e contudo cada um deles único, solitário, desamparado.
é a tal rosto que cada poeta está religado.
A sua rebeldia é em nome dessa fidelidade. Fidelidade ao homem e à sua lúcida esperan?a de sê-lo inteiramente; fidelidade à terra onde mergulha as raízes mais fundas; fidelidade à palavra que no homem é capaz da verdade última do sangue, que é também verdade da alma.
- Eugénio de Andrade, in " Afluentes do Silêncio", Editorial Inova Limitada, 1970
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The Art of Fra Angelico ( Born Guido di Pietro; c. 1395 – 1455 ) was a Dominican friar and Italian Renaissance painter of the Early Renaissance, described by Giorgio Vasari in his Lives of the Artists as having "a rare and perfect talent.
Eugénio de Andrade 1923 - 2005, Portuguese poet and translator Eugénio de Andrade was born José Fontinhas in Póvoa de Atalaia, Portugal. After his parents separated, the poet moved with his mother to Lisbon and then Coimbra. Influenced by surrealist thought, ancient Greek poetry, and Japanese haiku, Andrade wrote spare, concrete, lyric poems celebrating the body and the natural world with elemental precision.
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