Crédito pode salvar mercado de automóveis em 2025

Crédito pode salvar mercado de automóveis em 2025

Por Pedro Kutney


Apesar do bom resultado do mercado de veículos em 2024, este ano come?ou em clima de ressaca, como se abusos fossem cobrar seu pre?o com eleva??o da infla??o e aplica??o de remédio amargo anticonsumo, na forma de alta dos juros e consequente arrefecimento for?ado do crescimento da economia.

Ainda assim o cenário n?o parece t?o ruim quanto sugere a culpa que o Banco Central promete impingir aos brasileiros pelo pecado de ter emprego e consumir o que n?o estavam consumindo. A puni??o vem com taxa Selic já contratada pelo mercado financeiro para chegar a 14,25% até mar?o ou abril.

Claro que o aumento da Selic encarece o custo do crédito e reduz o apetite de quem pensava em financiar um carro.

Mas há outros fatores que podem compensar esta alta, que s?o mais positivos do que em anos recentes: a taxa de desemprego nunca esteve t?o baixa, deve fechar 2025 na faixa dos 6% – o que significa pleno emprego e mais renda disponível –, ao mesmo tempo em que a inadimplência dos financiamentos para compra de automóveis também está em patamar historicamente baixo, teve redu??o vistosa de 1 ponto porcentual nos doze meses terminados em novembro último, descendo de já bem comportados 5,4% para 4,4% ao longo do ano passado.

Emprego traz confian?a ao consumidor para tomar crédito e comprar bens, enquanto a baixa inadimplência fornece mais confian?a aos bancos para aprovar os financiamentos.

Além desta condi??o favorável de mercado, outro fator adicional que reduz a avers?o ao risco das financeiras e pode reduzir os juros é o Marco das Garantias, aprovado há cerca de um ano, que facilita e agiliza a retomada de bens em caso de n?o pagamento das parcelas sem necessidade de autoriza??o judicial.

A regulamenta??o melhora a qualidade da garantia do financiamento – no caso, o carro – e ajudou a empurrar para cima significativamente as concess?es de crédito para compra de veículos em 2024, mas ainda n?o fez todo seu efeito potencial, que deve ser carregado ao longo de 2025, segundo calculam a Fenabrave, que representa os concessionários, e a Anfavea, que reúne os fabricantes instalados no País.

Mais potencial de crédito disponível

Esta combina??o de fatores elevou o apetite de consumidores e bancos, levando a um recorde de concess?es de financiamentos de automóveis em 2024, que em volume de unidades vendidas cresceu mais de 30% sobre 2023, uma expans?o do crédito que há muito tempo n?o se via, segundo dados da B3, que guarda o registro de gravames no País.

Em valores, de acordo com acompanhamento do Banco Central, as novas concess?es de financiamentos para compra de veículos somaram R$ 192,2 bilh?es de janeiro a novembro, valor que cresceu 24,4% na compara??o com os mesmos onze meses de 2023.

Apesar de todo este avan?o as vendas a prazo de automóveis e comerciais leves ainda est?o em patamares historicamente baixos. Em dezembro, ainda conforme dados da B3, apenas 102 mil veículos leves foram financiados, ou 41% do total de 243,7 mil emplacamentos do mês.

Antes da pandemia, em condi??es normais de temperatura e press?o, a participa??o dos financiamentos variava de 60% a 70% das vendas de veículos.

Os fatores que levaram ao quadro de mais vendas à vista do que a prazo, com pre?os dos carros e juros nas alturas, est?o, aos poucos, sendo contidos: com a demanda retraída os fabricantes come?aram a fazer mais promo??es, concedendo descontos e juros mais baixos ofertados por suas próprias financeiras, fazendo as presta??es caberem em mais bolsos – que ao fim e ao cabo é o que importa à maioria dos consumidores.

Juro ao consumidor pode subir menos

O principal entrave, portanto, é o custo dos financiamentos, que continua alto e deve subir nos próximos meses – segundo o BC a taxa média era de 26,4% ao ano em novembro, em crescimento de quase 1 ponto porcentual no ano e com spread alto de 15,1 pontos antes da paulada na Selic, de 11,25% para 12,25%, em dezembro.

Contudo, o juro para compra de automóveis zero-quil?metro, oferecido principalmente pelas institui??es financeiras dos fabricantes, é bem mais baixo, em torno de 5 a até 10 pontos porcentuais abaixo da média apurada pelo BC, a depender da regi?o e das promo??es.

Ou seja, mesmo no cenário prospectivo de alta continuada do juro expressado na taxa Selic do BC, ainda há espa?o para a redu??o do spread, a diferen?a da Selic para o juro cobrado dos financiamentos ao consumidor, que fica pressionado a subir menos ou até baixar quando a inadimplência é reduzida e a demanda por veículos se retrai.

Desacelera??o sim, queda n?o

Com esses fatores em mente a economista Tereza Fernandez, que assessora a Fenabrave, avalia que a expans?o do crédito deve desacelerar em 2025 por causa da alta dos juros, mas “n?o deve ser queda, é desacelera??o, ainda ficará no campo positivo”.

Ela projeta crescimento geral de 5%, mas que pode variar de 12% a 14% no caso dos financiamentos de veículos para pessoas físicas, porque a inadimplência está baixa, o Marco das Garantias está sendo cada vez mais usado pelos bancos e o consumidor quer comprar.

Mesmo depois de todo o mau agouro do mercado financeiro no fim de 2024, que ignorou todas os bons resultados do ano para focar nos ruins em atendimento a interesses próprios, as vendas seguiram aquecidas em janeiro, um mês tradicionalmente de desempenho mais fraco.

Segundo dados da consultoria Bright, na primeira quinzena foram emplacados 68,8 mil automóveis e comerciais leves em dez dias úteis, um pequeno crescimento, de pouco menos de 2%, sobre o mesmo período de 2024, mas 64% das vendas foram sustentadas pelo varejo das concessionárias, um indicativo de que pessoas físicas compraram mais do que empresas. Ou seja: há demanda.

Como o que vende carros no Brasil sempre foi a combina??o de emprego e crédito disponível, ainda é possível que os financiamentos ajudem a salvar o ano e manter as vendas de veículos em crescimento, ainda que em ritmo menor do verificado no ano passado.

Até porque existe demanda reprimida e capacidade de produ??o de sobra para atendê-la. Basta os fabricantes segurarem a m?o nos reajustes e os bancos continuarem a financiar que o carro anda.



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