How can you differentiate between biased reporting and fake news?

Veículos de comunica??o têm linha editorial. E isso é uma forma elegante de chamar viés. Além disso, seus jornalistas s?o pessoas que, mesmo perseguindo a objetividade, também ter?o sua bagagem ao escrever. Mas fatos s?o fatos. E é honesto com o leitor / ouvinte / expectador comunicar claramente o tipo de alinhamento ideológico daquela publica??o e dar a liberdade de escolha no consumo do material jornalístico.

Meus anos de jornalismo mostram que uma apura??o errada é a pior coisa que pode acontecer a um profissional. Nossa moeda é a credibilidade e, quando nos deixamos levar por uma fonte que nos seduza com uma informa??o errada – que costuma vir nas roupas de um furo irresistível – a queda pode custar uma carreira. Mas para o leitor, a dica é mais simples: se o que foi escrito parece suculento demais, apimentado demais, sensacionalista demais, desconfie. Pode ser uma mentira completa ou um recorte de realidade feito para você refor?ar o que deseja ouvir. N?o muito diferente de um manipulador em love bombing.

O caso do falso engenheiro que apareceu no desabamento da obra da Linha Amarela do Metr? de SP nos mostra como um uniforme, uma postura e a pressa de reportar podem gerar erros terríveis. Uma fonte de qualidade é a matéria-prima de uma boa reportagem. Claro que é necessário buscar fontes, no plural, para dar conta dos diversos pontos de vista. Mas seduzir-se por uma opini?o vaga ou um inimigo desejoso de ver a queda de alguém é um caminho perigoso que nem foca (repórter iniciante) deveria cair.

Repórter bom é desconfiado. N?o adianta ir pra rua se n?o tiver senso analítico e uma boa dose de descren?a. é meio Dr. House: everybody lies. Por que cada um mente? O repórter (bem como produtores e editores) tem que sentir o cheiro de que algo errado n?o está certo. Se tem alguma ponta solta, alguma informa??o de bastidor que chegou muito fácil... desconfie. Claro que a rela??o com as fontes se constrói numa confian?a mútua por anos. Mesmo com estes, é preciso muito cuidado. Seguro, morreu de velho.

Quanto mais fontes e mais pontos de vista forem ouvidos, menor a chance de ser enganado por um sabich?o. Matéria de uma fonte só nem deveria existir! Se todos temos vieses, colocar muitas vozes em uma reportagem ajuda a equilibrar a história e reduz muito a chance de precisar de uma errata depois.

"Jornalismo é oposi??o. O resto é armazém de secos e molhados." Mill?r Fernandes. N?o quer dizer que seja pra sair batendo sem qualquer motivo. Mas o jornalista tem o papel de perguntar, incomodar, investigar, buscar aquilo que ninguém ainda viu. Se é pra replicar o que recebeu, a chamada gilete Press, nem precisa de repórter - AI faz muito melhor. Mas o faro de encontrar a história que vai deixar alguém desconfortável por ter feito o que n?o deveria é obriga??o do jornalista.

Já ouvi dezenas de vezes de amigos n?o-jornalistas a confus?o entre um erro de reportagem, um texto enviesado e fake news. S?o bichos diferentes. Se você n?o trabalha com notícia, é bem compreensivo que coloque tudo no balaio das fake news. Mas essas últimas s?o conteúdos intencionalmente reduzidos / produzidos com a inten??o de refor?ar uma posi??o ideológica. Os dois outros casos têm muitas explica??es possíveis. Podem ser profissionais despreparados, um processo de produ??o ineficiente (muitas pautas pra mesma pessoa que apura mal), pressa para garantir o furo, vaidade e, sim, nossos vieses. Para jornalistas, devemos ter isso de forma cristalina: e combater veementemente os três.